“Missões se faz ou indo, ou orando, ou contribuindo.” É comum ouvir essa frase no meio evangélico, mas o modo como ela é interpretada pode ser maléfico e gerar confusão sobre o papel da igreja na evangelização. Se missões se faz ou indo, ou orando, ou contribuindo, segue-se que se eu oro, mas não vou e não contribuo, ainda assim estou cumprindo o meu papel. Se missões se faz deste jeito, eu posso apenas pagar para que algum missionário vá evangelizar em meu lugar e minha obrigação na evangelização é cumprida por meio daquele que está indo favorecido por minha contribuição financeira.
Não é difícil de ouvirmos que igreja A, B ou C é uma igreja missionária pelo fato de contribuir financeiramente com muitos missionários que estão no campo. Muitas dessas igrejas porém, estão apenas contribuindo, ou apenas orando, mas não estão indo. Muitas dessas igrejas acreditam que estão cumprindo o seu papel na evangelização por sustentar as pessoas que estão lá fora, mesmo que os seus membros, no dia a dia, não pregam a Palavra.
O próprio termo “missionário” muitas vezes causa confusão no nosso meio, pois pensa-se que missionário é apenas aquele que “sai da sua terra, e da sua parentela” e é enviado para um contexto transcultural. Mas há um ministério na Bíblia que todo o crente possui e que faz com que todos que professam fé em Jesus Cristo se tornem missionários: o ministério da reconciliação
“Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus.” 2Co 5:18-20
Todo crente foi reconciliado com Cristo, recebeu o ministério da reconciliação e a palavra da reconciliação. Logo, todo crente deve ser um missionário no lugar em que Deus o colocar, e na dinâmica do dia-a-dia, enquanto está indo, deve fazer discípulos de Jesus, ensinando-os a guardar todas as coisas que Cristo ordenou (Mt 28:19). Todo aquele que se intitula cristão deve proclamar o evangelho às pessoas com quem convive. Com proclamar queremos dizer de forma audível, não apenas com ações, pois “a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo”(Rm 10:17).
Se só os que vão para as nações são missionários, logo, o restante dos que se reúnem como igreja não são, de fato, igreja. Afinal, ser missionário faz parte da identidade de todo crente. Os que não vão para as nações são chamados para fazer missões no trabalho, nas escolas, nas faculdades, na vizinhança, no mercado, na praia, no clube ou em qualquer lugar onde estejam, a tempo e a fora de tempo.
Verdade é que igreja que não vive missões no dia-a-dia não é uma igreja verdadeira. A frase “essa igreja é uma igreja missionária” não passa de um pleonasmo. Algo parecido com “subir pra cima” ou “entrar pra dentro”. Se alguém sobe, óbvio que é pra cima. Se alguém entra, óbvio que é pra dentro. Se uma igreja é igreja, óbvio que é missionária!
Se uma igreja é igreja, óbvio que é missionária
Não há possibilidade de terceirizarmos a nossa evangelização. Não podemos pagar pra alguém ir no nosso lugar, não podemos orar pra que alguém vá no nosso lugar. Claro que devemos contribuir financeiramente para que irmãos nossos vão pregar em contextos transculturais, claro que devemos orar por estes mesmos irmãos, mas isso não nos isenta de obedecermos o chamado de irmos, cada um de nós, pregar o evangelho. Todos nós temos que ir! E se não estamos indo, estamos em desobediência e em pecado, pois proclamar o evangelho não nos é dado como algo opcional. Missões não se faz ou indo, ou orando, ou contribuindo; missões se faz indo e orando e contribuindo.
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