Ano passado, o comediante e ator Aziz Ansari explicou, numa entrevista, por que deixou as redes sociais. Aziz, responsável pela série vencedora do Globo de Ouro, Master of None, disse que “sempre que você checa se há um novo post no Instagram ou sempre que você vai ao New York Times para ver se há algo novo, não é nem pelo conteúdo. É só pra ver algo novo. Você fica viciado nesse sentimento. Você não consegue se controlar.”
Nesta era, marcada pela conectividade constante, recebemos novidades o tempo todo. Notificações nos informam se o nosso time está ganhando ou perdendo, quem está na frente na última pesquisa eleitoral ou simplesmente que nosso amigo publicou algo novo no Facebook. Somos bombardeados com novidades de todo lado. Seja a nova série que entrou na Netflix ou o novo artigo de opinião do nosso colunista favorito, sempre há algo novo. É uma ditadura que nos escraviza.
Talvez nada represente isso tão bem quanto a indústria tecnológica. Nesta quarta-feira (12), a Apple anunciou os novos modelos do iPhone, batizados de iPhone XS e XR, e junto com os anúncios confirmou que está descontinuando o iPhone X, lançado há apenas um ano. Isso é o que chamamos de obsolência programada. Todo ano, a empresa, que agora vale mais de US$ 1 trilhão, deixa os seus produtos desatualizados. Então, muitos consumidores passam a estar “desatualizados” apenas alguns meses depois de investirem num novo smartphone de ponta. Para muitos, isso causa um sentimento de insatisfação. Agora, você está atrás das pessoas.
Isso não é culpa da Apple, ela só está capitalizando em cima de um impulso humano. Se não for um produto, nos sentimos desatualizados por não termos escutado um novo álbum, por não termos visto um novo filme ou porque não soubemos da notícia mais recente, mesmo que ela seja algo tão pessoal e pequeno como saber que um casal terminou um namoro. Quando a conversa entra nesses assuntos, nos sentimos deixados de fora, alienados ou até mesmo ignorantes.
Esse sintoma tem ficado cada vez pior com a explosão das redes sociais, a nossa busca pelo novo se tornou ainda mais constante dentro do cotidiano, especialmente entre os mais jovens, que usam essas ferramentas mais constantemente. Uma pesquisa do jornal Emotion identificou que 91 a 98% dos jovens americanos sentem-se entediados durante o dia. Como podemos ficar assim se há tanta novidade, tanto conteúdo para consumir e tanta facilidade em acessar isso tudo?
A resposta está dentro do nosso coração. Essa agitação é fruto do nosso pecado, que por sua vez mostra uma falta de satisfação em Deus. Jesus explica que nele o nosso gozo está completo. Se não sentimos essa plenitude, não estamos nos deleitando nele como deveríamos. Não há razões para duvidar do que o nosso Salvador está falando. Jesus não está exagerando. Se Deus é infinitamente bom, Ele é capaz de suprir qualquer necessidade que sentimos. Buscar essa satisfação em outro lugar é, como Salomão bem explicou, correr atrás do vento. As outras fontes são cisternas rotas, e nosso vício nas novidades revela uma busca desenfreada para tentar saciar essa sede. Mas, como normalmente acontece com viciados, isso só aumenta nosso desejo. Precisamos de mais, precisamos do melhor. Nada é suficiente.
Jesus explica que nele o nosso gozo está completo. Se não sentimos essa plenitude, não estamos nos deleitando nele como deveríamos
O próprio Salomão trata isso em Eclesiastes quando diz “Melhor é um punhado de descanso do que ambas as mãos cheias de trabalho e correr atrás do vento” (Ec 4:6) e “Doce é o sono do trabalhador, quer coma pouco, quer muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir” (Ec 5:12). Não adianta ter a fartura e ter tudo, inclusive o novo iPhone, se não temos esse sono doce.
E de onde vem esse descanso abençoado? Basta lembrar de um dos Salmos mais famosos de todos: “O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará. Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso” (Sl 23:1-2). A solução para nossa agitação não estar em tapar os buracos com novidades, mas em preenchê-los com Deus.
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