Você já ouviu o termo “viver perigosamente?” Ele normalmente é usado para descrever atitudes de alguém que está procurando estímulos no seu comportamento para adicionar um “tempero” na sua vida. Ele não é exclusivo a pessoas que fazem atividades radicais, como pular de paraquedas ou nadar com tubarões. Qualquer coisa fora da zona de conforto já é aplicada nessa expressão. O problema, entretanto, é que, como consequência do pecado que existe no coração do homem, isso não se limita a experimentar uma culinária diferente ou viajar para um país cujo idioma é desconhecido.
Para muitos cristãos, essa ideia pode ser descrita como viver de uma forma mais semelhante ao mundo possível, mas sem se tornar um com o mundo. Então, por exemplo, se adota um padrão de comportamento, de vestimentas, de interação social e até mesmo de vocabulário, que, num primeiro momento, dificilmente pode ser distinguido dos padrões que pessoas que não professam a fé cristã exibem. Muitas vezes esses padrões não são, em si, pecaminosos, mas demonstram uma vontade, um desejo, de viver na beira do abismo, buscando um estímulo que gere uma espécie de satisfação no coração.
Então, por exemplo, você decide beber bebidas alcoólicas ou frequentar festas e dançar no fim de semana. Nenhuma dessas coisas, por si só, são pecados – o que é deve ser evitado é o alcoolismo ou danças indiscretas – mas o problema está na intenção do coração. Podemos dizer, com certeza, que nós só estamos indo beber porque o gosto da bebida nos agrada? Ou que é simplesmente a movimentação física da dança que nos motiva a participar dessas atividades sociais?
Novamente, o pecado pode até não existir no ato em si, mas “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto.” (Jeremias 17:9). Mesmo que o momento onde bebemos esteja apenas sendo compartilhado com pessoas da mesma fé, devemos vigiar a nossa verdadeira intenção com tudo o que fazemos. Ninguém peca porque tem o dever de pecar, nós estamos sempre buscando satisfação e prazer do coração, e ele não pode ser confiado.
Os ambientes onde isso é costumeiro normalmente são acompanhados de outros pecados, ainda piores. Com o que os brasileiros associam essas coisas? A própria bebida é vista como o princípio para algo. Festas são lugares para satisfazer a carne. Os cristãos justificam sua participação nessas ações estabelecendo limites – “eu vou beber, mas não fico embriagado” ou “vou pra festa, mas não fico com ninguém.”
Mas limites auto-impostos não devem inspirar confiança. Eles são fruto desse coração totalmente enganoso. Além disso, sair para beber pode não ser, em algumas situações, um pecado, mas isso certamente pode nos deixar próximos de nossos inimigos.
SEMPRE ALERTA
Efésios 2:1-3 nos ensina que o cristão pode esperar três inimigos em sua vida.
Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais.
Esse texto nos mostra que andávamos segundo, 1) o curso deste mundo, 2) o príncipe da potestade do ar, 3) as inclinações da nossa carne. É importante que entendamos o que cada um desses inimigos significa para o cristão
O mundo é como uma areia movediça. Ele tenta assimilar todos que vivem nele e não aceita pessoas diferentes que desafiam os seus valores. Ele está, constantemente, tentando engolir todos que vivem nele, já que foi totalmente corrompido pelo pecado e está caminhando em direção à ruína, com o desejo de arrastar todos junto. João 17 nos ensina que estamos no mundo, mas não somos do mundo. Somos chamados, então, a não deixar que essa assimilação corrupta aconteça.
O príncipe da potestade do ar é o acusador, o diabo. Aquele que 1 Pedro 5 nos chama a ficar vigilantes porque ele está sempre ao nosso redor, como um leão faminto para nos devorar. O diabo é mentiroso e assassino. Ele vai sussurrar no nosso ouvido constantemente que estamos bem, que podemos fazer aquilo, que podemos nos aproximar do pecado, e então nos acusará quando cairmos em suas armadilhas.
Já a carne é nosso velho homem, do qual só nos livraremos completamente quando partirmos para a vida eterna. Essa é a parte do nosso ser que está manchada pelo pecado e perdeu completamente o seu discernimento. Todo ser humano em existência busca a alegria, e a Bíblia, sabendo disso, nos oferece o caminho certeiro para alcançá-la em toda sua plenitude. “Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente.” (Salmo 16:11). A carne, entretanto, não consegue mais reconhecer isso, e acredita que o venenoso e temporário prazer do pecado é suficiente para nós.
A VERDADEIRA ALEGRIA
Por que vivemos perigosamente? Por que nos aproximamos tanto do pecado, como se estivéssemos cutucando uma onça com vara curta? A resposta está no parágrafo anterior. Estamos sempre buscando alegria. O que o pecado faz é atacar e confundir nossos sentidos, tirando o senso de direção e discernimento do que é bom ou ruim para nós. Passamos a buscar o prazer independentemente de onde ele venha.
Mas como o Salmo 16 mostra, a plenitude de alegria existe na presença do Senhor, e não em outro lugar, não na bebida, na festa, nas roupas ou costumes. Viver perigosamente, dar uma olhadinha através da brecha da porta do pecado, pode trazer um prazer para nosso coração, mas isso não será suficiente para nós. O buraco que existe em nosso coração é infinito, e só uma alegria infinita pode preenchê-lo.
Buscar prazeres no mundo é, como Jeremias 2 explica, cavar cisternas rotas que não retêm a água. Eventualmente, ficaremos com sede novamente, cavaremos mais fundo, e entraremos mais em contato com o pecado, deixando que o mundo, o diabo e a carne nos alcancem. Para evitar que isso aconteça, devemos reconhecer que, como John Piper repetidamente declara, Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos nele.
Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos nele
Quando buscamos nossa alegria apenas daquele que oferece alegria eterna, satisfazemos o desejo da nossa alma com uma alegria saudável, que glorifica o autor da mesma. Mais do que viver perigosamente, essa é a essência de viver eternamente.
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