Divergências políticas existem e possivelmente sempre irão existir enquanto caminharmos por essa terra. Mas onde devemos colocar nossas esperanças no meio de tantas posições políticas? Como lidar com essas divergências dentro da igreja? Você consegue imaginar, ainda no primeiro século, como seria o convívio de um homem chamado Mateus que, por boa parte da vida, foi um publicano, e um outro homem chamado Simão, um zelote?
Mateus era um publicano, judeu coletor de impostos, que assim como os outros publicanos da época compravam do imperador romano o direito de cobrar imposto dos israelitas, extorquindo dos seus compatriotas para encher os cofres romanos. Mas, como se isso não fosse o suficiente, os publicanos cobravam valores abusivos como impostos (em outras palavras, roubavam) a fim de encher os próprios bolsos. Assim, eles eram odiados em toda a nação de Israel, considerados traidores, impuros, sem escrúpulos, excluídos religiosos, eram proibidos de entrar na sinagoga e até mesmo de oferecer sacrifícios e adoração no templo. Eram desprezíveis.
Simão, um outro judeu, era de uma linha totalmente oposta a de Mateus. Simão era um zelote, fazia parte de um partido político de judeus zelosos e fanáticos que consideravam que apenas Deus tinha o direito de governo sobre eles. Os zelotes odiavam os romanos e tinham como objetivo livrar-se do domínio deste império estrangeiro, mesmo que para isso fosse necessário usar de terrorismo e violência. Para os zelotes, assassinar soldados romanos, líderes políticos e traidores de israel era “realizar a obra de Deus”. Muitos dos zelotes eram conhecidos como sicarii (homens da adaga), pois estes carregavam adagas curvas nas dobras de suas túnicas para se aproximarem sorrateiramente de quem eles consideravam inimigos e traidores, e assim os ferir pelas costas, entre as costelas, para atingir mortalmente o coração.
Logo, para a época, não seria estranho se em certo momento da vida Simão se aproximasse furtivamente de Mateus para o matar. Mas não foi isso que aconteceu. Esses dois homens, outrora com visões de mundo divergentes, foram chamado pelo Senhor Jesus para compor o Seu time de apóstolos, para trabalharem lado a lado pela causa do evangelho, para se tornarem irmãos na fé, para andarem em unidade. As divergências políticas e ideológicas dos dois encontraram uma causa muito maior que os uniu e que transformou as suas opiniões: Jesus Cristo, o Nazareno, e seu evangelho.
As divergências políticas e ideológicas dos dois encontraram uma causa muito maior que os uniu e que transformou as suas opiniões: Jesus Cristo, o Nazareno, e seu evangelho.
Em momentos de tanta divergência política e de tanta efervescência como o nosso cenário eleitoral, o que vemos muitas vezes é que aparentemente ideologias políticas (algumas delas, infelizmente, totalmente contrárias a Palavra de Deus) tem tido muito mais força de dividir discípulos de Cristo do que o evangelho tem tido força para os unir. Quando um crente no Senhor Jesus consegue se sentir em profunda comunhão com um descrente por causa de semelhança na visão política, mas se torna um inimigo de um outro crente que diverge dele politicamente, isso se torna uma vergonha para o evangelho e revela que nosso coração está mais apegado às questões terrenas do que as coisas lá do alto. Desse modo, nos tornamos um empecilho para que as pessoas conheçam que o Pai enviou o Senhor Jesus à terra para resgatar pecadores:
“Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim.” (João 17:20-23)
Nenhum cristão íntegro deve abraçar alguma visão política que seja contrária aos ensinos da Palavra de Deus, caso contrário, isso é ser alguém de ânimo dobre. Que cada crente deixe que as Escrituras sejam o juiz das suas escolhas, seja no âmbito da política, ou em qualquer outra área da vida, mesmo que isso redunde em perseguição ou na desconstrução de uma visão que se cria anteriormente com tanta veemência. Cabe uma auto-análise sincera conformando-nos à verdade que professamos quando dizemos que a Bíblia é a nossa única regra de fé e prática.
Talvez, a princípio, Simão, o Zelote, tenha começado a seguir Jesus na esperança de que Jesus seria um Messias político que expulsaria o domínio romano de Israel, uma ideia que foi totalmente frustrada, pois Jesus não derrubou o império romano, ensinou a pagar impostos e curou um servo de um centurião romano. Em algum momento Simão se tornou um crente verdadeiro, passou a caminhar com Mateus (um ex-publicano) no amor de Cristo, e abriu mão de idéias políticas tão entranhadas na sua alma por causa da verdade do Senhor Jesus Cristo.
Jesus é o verdadeiro Messias e não livrou Israel do império Romano. Mas Deus perdeu o domínio por causa disso? Deus deixou de ser soberano sobre a história? Deixou de governar? De maneira alguma!
“E ele muda os tempos e as estações; ele remove os reis e estabelece os reis; ele dá sabedoria aos sábios e conhecimento aos entendidos.” (Dn 2:21)
Ele estabelece reis, presidentes e líderes, seja para o bem das nações, ou mesmo para juízo delas. Qualquer que seja o quadro pintado, o povo do Senhor Jesus deve caminhar em unidade para fazê-lo conhecido, deve abrir mão de qualquer conceito ou visão de mundo que sejam contrários às Escrituras, deve orar para que a vontade de Deus seja estabelecida e não deve colocar a esperança em homens, em políticos, ou ideologias, mas unicamente no Senhor que está assentado sobre um alto e sublime trono reinando em todo tempo. Que em tempos como esse cuidemos para não idolatrarmos políticos.
“Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do SENHOR! Porque será como o arbusto solitário no deserto e não verá quando vier o bem; antes, morará nos lugares secos do deserto, na terra salgada e inabitável. Bendito o homem que confia no SENHOR e cuja esperança é o SENHOR. Porque ele é como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e, no ano de sequidão, não se perturba, nem deixa de dar fruto.” Jr 17:5-8
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