Escola, faculdade, trabalho…
Namoro, noivado, casamento e filhos…
Carro, casa própria, viagens…
Seria muito bom se a vida fosse tão simples, né?
A vida adulta não é nada fácil, e não é culpa dos boletos a pagar. Estamos sempre cansados.
Certa vez eu estava em uma reunião entre líderes na igreja (pastores e presbíteros) e um ancião com muita experiência de vida falou algo marcante: o cansaço faz parte da vida humana. Ora, você pode pensar que ele falou isso porque estava sem vigor e ânimo diante da vida, mas era justamente o contrário. Aquele senhor estava celebrando 50 anos de formatura na faculdade, 50 anos de trabalho no mesmo lugar, 50 anos de presbiterato e 50 anos de casado (sua esposa havia falecido no ano anterior).
Existe hoje um novo termo sendo usado para dar nome a uma geração de adultos que persevera em ficar presa ao mundo juvenil. É a chamada “adultescência”. Segundo Andreia Perroni (doutora em semiótica da cultura), essas pessoas são um pouco mais superficiais, não suportam rotina, não conseguem lidar direito com responsabilidades, por isso, não possuem relacionamentos definitivos. A ideia de casamento ou filhos, por exemplo, lhes parece bastante penosa.
Para a doutora, um dos fatores que fizeram eclodir esse comportamento “juvenilizado” se deu pela crise de sentido trazida pela pós-modernidade. A pós-modernidade criou um ambiente propício para a adultescência, fazendo com que as pessoas não se encontrem na sua identidade.
Tipicamente, como aquele personagem da Disney: Peter Pan. Um menino que não queria crescer, era dotado de poderes mágicos e vivia na Terra do Nunca, onde tudo era um eterno brincar. A neverland que cada jovem constrói para evitar o drama e os desafios do amadurecimento.
Esse fenômeno também foi descrito pelo psicólogo americano Dan Kiley em seu livro The Peter Pan Syndrome: Men Who Have Never Grown Up (Síndrome de Peter Pan: homens que nunca crescem).
Segundo os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil segue uma tendência mundial quando o assunto é filhos permanecerem na casa dos pais por mais tempo, o que especialistas têm chamado de “Geração Canguru”.
Um levantamento feito, em 2012, segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio), mostra que 24% dos jovens entre 25 a 34 anos vivem com os pais, sendo 60% homens e 40% mulheres.
Ninguém quer ficar velho. Vivemos uma revolução no campo linguístico que não permite mais nem ao menos usar o termo velho. Falamos boa idade, maduro, experiente. Os adolescentes sonham em se tornar jovens para alcançar o mito da autonomia e da liberdade, no entanto, enquanto jovens, fogem de se tornarem adultos e, enquanto adultos, fogem de se denominar assim. Chamamos até “jovens adultos”.
Todos nós queremos beber a água na fonte da eterna juventude (se você lembrou algum filme dos Trapalhões, não é um bom sinal). Temos a ditadura estética com seus produtos cosméticos e suas promessas de rejuvenescimento corporal, de plásticas, silicones, entre outros.
Vivemos uma ditadura fitness com seus padrões de nutrição, academia, crossfit, corpo saudável, corpo perfeito, com suas fotos no espelho recheadas de hashtags de sucesso no instagram. (#body #weyprotein #Fitness #nopainnogain #workout #bodybuilding #gymlife #foco #força #fé #VemMonstro).
E há ainda uma ditadura tecnológica, na qual a acelerada mudança das gerações não é mais a cada 40 anos, mas entre 5 a 10 anos. Muita informação, muito conhecimento, alto consumo, atrativo marketing digital e a obsolescência programada que não atinge apenas os bens de consumo, mas a alma angustiada de muitos.
Esse gigantesco mundo de informações e conhecimentos que traz consigo uma sensação de autonomia e liberdade para os jovens desde cedo. Tudo por causa do campo do saber, mas saber não é tudo! Existe o lance das inteligências múltiplas pessoas muitos estimuladas ao campo do conhecimento, geralmente, são de difícil acesso e relacionamento. Criamos jovens muito sabidos, mas sem inteligência emocional para lidar com a vida real. Alto Q.I (Quociente de Inteligência) e baixo Q.E (Quociente emocional).
Nesse contexto, a geração Milllennials (nascidos entre 1980-2000) vem com tudo por aí, juntamente com a geração Z (nascidos entre 2000-2010 e a geração alfa (nascidos a partir de 2010): os nativos da internet que tem grandes ideias e querem empreender ao máximo.
Segundo Débora Andrade Carvalho, analista do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), os millennials nasceram na era da tecnologia, realizam tarefas múltiplas, se importam com a agilidade nas transações e, além de tudo, querem saber a relevância, a história e os valores das empresas com as quais se relacionam. Trabalhar com o que gostam, sentir-se bem, vivenciar novas experiências e pagar um preço justo são questões importantes para essa geração digital e com mais acesso à informação.
Mas, será que estão preparados para perder? Para o fracasso? A dor da demissão ou da falência? Creio que estamos falando da mesma situação: baixa inteligência emocional e para os cristãos, o pior de tudo: falta de discernimento espiritual para a vida.
Os problemas da vida real são mais e mais conhecidos durante a própria vida adulta. Deixam de ser elementos de séries da Netflix e entra na gente sem nem pedir permissão.
Um casamento mal sucedido, uma gravidez fora do casamento, uma humilhação no trabalho, um escândalo envolvendo pessoas que você ama, os ressentimentos carregados ao longo da vida, o fracasso, os sonhos não alcançados, o desânimo com o futuro, entre outras tantas demandas de cunho espiritual, afetivo, emocional e profissional.
Para resumir, vamos citar dois grandes grilhões de uma vida adulta que perdeu Deus de vista: o orgulho e o desânimo. Veja o exemplo do povo de Deus ao terminar de reconstruir o templo de Jerusalém (conforme nos conta o profeta Ageu).
Eles diziam o primeiro templo era muito melhor e mais bonito (orgulho) do que esse pequeno e sem expressão (desânimo). São sacadas muito inteligentes de pessoas que analisam o passado e o presente com muita informação e perspicácia, mas sem discernimento espiritual para dar passos em direção ao futuro.
Mas, e aí? O que fazer?
A Bíblia nos oferece uma sabedoria através da lei da semeadura: o que o homem plantar, ele também vai colher. Vejamos alguns textos das Escrituras Sagradas:
Salmos 126:5-6
Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes.
Eclesiastes 11:4
Quem somente observa o vento nunca semeará, e o que olha para as nuvens nunca segará.
De acordo com o teólogo Walter C. Kaiser Jr., o texto acima retrata os homens que insistem em certezas ou mesmo nas condições mais favoráveis antes de agir na vida nunca farão coisa alguma. O agricultor que hesita em demasia diante da ameaça do vento e das nuvens nunca começará a semear e a colher.
Gálatas 6:7-10
Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia para a sua própria carne da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito do Espírito colherá vida eterna. E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos. Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé.
2 Coríntios 9:6
E isto afirmo: aquele que semeia pouco pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também ceifará.
Vamos olhar para a narrativa bíblica de um herói da fé e entender melhor isso: Moisés – 40 anos de formação no Egito, 40 anos de formação no deserto e 40 anos de muita labuta peregrinando com o povo pelo deserto.
Como Deus formou e forjou esse servo para a vida adulta? Qual foi o caminho que o Senhor trilhou com Moisés rumo a sua maturidade? Quando Moisés parou de plantar e começou a viver apenas da colheita? E a aposentadoria? Em tese, todos não teríamos direito?
Atos 7:17-36:
Como, porém, se aproximasse o tempo da promessa que Deus jurou a Abraão, o povo cresceu e se multiplicou no Egito, até que se levantou ali outro rei, que não conhecia a José. Este outro rei tratou com astúcia a nossa raça e torturou os nossos pais, a ponto de forçá-los a enjeitar seus filhos, para que não sobrevivessem. Por esse tempo, nasceu Moisés, que era formoso aos olhos de Deus. Por três meses, foi ele mantido na casa de seu pai; quando foi exposto, a filha de Faraó o recolheu e criou como seu próprio filho. E Moisés foi educado em toda a ciência dos egípcios e era poderoso em palavras e obras.
Quando completou quarenta anos, veio-lhe a ideia de visitar seus irmãos, os filhos de Israel. Vendo um homem tratado injustamente, tomou-lhe a defesa e vingou o oprimido, matando o egípcio. Ora, Moisés cuidava que seus irmãos entenderiam que Deus os queria salvar por intermédio dele; eles, porém, não compreenderam. No dia seguinte, aproximou-se de uns que brigavam e procurou reconduzi-los à paz, dizendo: Homens, vós sois irmãos; por que vos ofendeis uns aos outros? Mas o que agredia o próximo o repeliu, dizendo: Quem te constituiu autoridade e juiz sobre nós? Acaso, queres matar-me, como fizeste ontem ao egípcio? A estas palavras Moisés fugiu e tornou-se peregrino na terra de Midiã, onde lhe nasceram dois filhos.
Decorridos quarenta anos, apareceu-lhe, no deserto do monte Sinai, um anjo, por entre as chamas de uma sarça que ardia. Moisés, porém, diante daquela visão, ficou maravilhado e, aproximando-se para observar, ouviu-se a voz do Senhor: Eu sou o Deus dos teus pais, o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. Moisés, tremendo de medo, não ousava contemplá-la. Disse-lhe o Senhor: Tira a sandália dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa. Vi, com efeito, o sofrimento do meu povo no Egito, ouvi o seu gemido e desci para libertá-lo. Vem agora, e eu te enviarei ao Egito. A este Moisés, a quem negaram reconhecer, dizendo: Quem te constituiu autoridade e juiz? A este enviou Deus como chefe e libertador, com a assistência do anjo que lhe apareceu na sarça. Este os tirou, fazendo prodígios e sinais na terra do Egito, assim como no mar Vermelho e no deserto, durante quarenta anos.
Temos aqui nesse relato de Estêvão um resumo da trajetória ministerial de Moisés em busca e a serviço do reino de Deus: 120 anos de história a serviço do Reino. Detalharemos esses 120 anos amanhã, no próximo texto dessa série.
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